Na seção “Minha história” do Observatório de Inclusão e Economia, pessoas com deficiência contam suas trajetórias em busca de inclusão econômica.

A acessibilidade envolve três conceitos amplamente reconhecidos. O primeiro é a acessibilidade estrutural, que garante que todo e qualquer prédio ou estrutura seja acessível e seguro para pessoas com deficiência. O segundo é a acessibilidade metodológica, que assegura uma educação inclusiva e adaptada às necessidades desse público. O terceiro é a acessibilidade atitudinal, que diz respeito à convivência social, garantindo respeito, empatia e tratamento adequado às pessoas com deficiência. No entanto, fica a questão: será que o ambiente universitário cumpre esses três pilares?
Como egressa da universidade, tenho críticas sinceras a diversos aspectos, mas acredito que o principal problema não está no acesso do aluno com deficiência ao ambiente acadêmico, e sim na permanência desse estudante na instituição.
Desde 2015, tornou-se obrigatório por lei que todas as universidades brasileiras cumpram um percentual mínimo de inclusão de alunos com deficiência. Assim, instituições que não cumpriam a norma passaram a ser pressionadas a adaptar-se à nova realidade. No Maranhão, nossas universidades públicas, UFMA e UEMA, deveriam cumprir (ou continuar cumprindo) essa determinação.
A entrada dos estudantes pode ser medida em números. O que mais preocupa, porém, é a permanência e a motivação desse aluno para continuar no ambiente universitário.
A dificuldade não está apenas na infraestrutura, embora a falta de acessibilidade estrutural seja evidente e limite a autonomia e segurança do aluno para circular no campus. O problema também envolve a inclusão no processo acadêmico, que deveria garantir condições reais de participação e aprendizagem.
A falta de acessibilidade estrutural é visível, mas o que dizer daquilo que não conseguimos quantificar? A acessibilidade metodológica e atitudinal muitas vezes é negligenciada. Em minha experiência, contei com colegas que me apoiaram e com minha própria trajetória de enfrentamento e resistência, além de uma estrutura familiar que me proporcionou certos privilégios. Mas essa não é a realidade da maioria.
A falta de empatia de alguns professores e o tratamento preconceituoso de colegas tornam o percurso ainda mais difícil e, infelizmente, alguns tipos de deficiência são mais “aceitos” que outros, o que evidencia desigualdades dentro da própria inclusão.
Por isso, quando se celebra o aumento do número de estudantes com deficiência no ensino superior e se exalta o discurso do “viva a inclusão”, precisamos analisar com profundidade e perguntar: quantos estão entrando e quantos estão saindo? Quantos conseguem permanecer? Qual é o perfil do aluno que consegue concluir o curso? O núcleo de acessibilidade da universidade conhece de fato as necessidades individuais de cada estudante ou atua de forma generalista?
Acessibilidade não se resume a instalar uma rampa, uma placa ou uma vaga de estacionamento. Existe uma profundidade no trabalho, ainda maior quando se trata do ambiente universitário.
E mesmo que, apesar de todas as adversidades, o estudante consiga concluir o curso, permanece outra questão: como será a inclusão desse egresso no mercado de trabalho? Existe algum acompanhamento posterior? Infelizmente, antes deste Observatório, não havia qualquer debate consistente sobre o plano de carreira da pessoa com deficiência. No livro Sobre limões e linhas tortas, acompanhamos a trajetória de cinco jornalistas com deficiência e somos apresentados às diversas situações que enfrentam — e que, lamentavelmente, continuam enfrentando.
A universidade deveria ser um modelo de cidade inclusiva, e não um retrato fiel das exclusões presentes em nossa sociedade. Infelizmente, quase dez anos após a obrigatoriedade das cotas para PcD, ainda se observa a prática do “jeitinho”, em que o estudante com deficiência precisa se virar para se adaptar a um ambiente voltado à sua sobrevivência, e não ao seu desenvolvimento pleno. A realidade de São Luís, como mostram os dados desta edição, é preocupante, e se agrava ainda mais quando analisamos os campi do interior, onde os números são quase inexistentes.
Eu adoraria apresentar um texto otimista sobre a inclusão do estudante com deficiência no meio acadêmico. Mas, analisando não apenas pela experiência pessoal, mas também pelos fatos, percebo que, embora seja uma medida obrigatória, muitas gestões fazem pouco caso ou cumprem apenas o mínimo. Ainda assim, quando surgem exceções, respiramos aliviados e renovamos a esperança de que vale a pena persistir. É isso que buscamos por meio da atuação deste Observatório: encontrar meios, ferramentas e fortalecimento para tantos e tantas que enfrentam essa realidade.
Por fim, acredito, com otimismo, que podemos transformar e melhorar vários dos cenários existentes. Talvez, daqui a dez anos, eu possa trazer um texto mais positivo e números mais satisfatórios. Afinal, até mesmo as pesquisas sobre acessibilidade na UFMA têm ganhado mais notoriedade. Que possamos confiar na evolução da universidade nas três esferas essenciais: estrutural, metodológica e atitudinal.
Autora: Victória Larissa Santos Chaves.
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